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  • Foto do escritorOperação Resgate Brasil

AS REALIDADES DOS QUE AQUI HABITAM


Recentemente realizamos uma atividade de passeio com alguns de nossos educandos e como avaliação do processo, percebemos a necessidade de ampliar esses nossos momentos. O que nos motivou a pensar sobre isso foi a vontade, o impulso, de fazer com que nossas crianças, que residem em Patos, conheçam, vivam e experimentem a cidade. Talvez, para alguém que consegue com facilidade transitar na cidade, seja estranho pensar: tá, mas por que ou como que esses jovens não conhecem sua própria cidade? O que as impede? O que faz com que elas não conheçam o centro ou os pontos turísticos e históricos de seu próprio local?

Essas perguntas, quando acrescidas a importância que deve ser atribuída aos passeios turísticos e ao lazer na cidade, pode nos mostrar algo muito conhecido no Brasil, e que atualmente tem se tornado ainda mais visível devido à crise econômica vigente: a desigualdade social. Talvez, de maneira ingênua, essa relação entre ocupação dos espaços públicos e desigualdade social não seja facilmente perceptível. Isso pode acontecer porque pode parecer simples ocupar um espaço: é só se transportar até o local e vivenciar esse local por um determinado período. E é nos “transportar, transladar” que habita essa desigualdade: quem é que, com sua pouca ou quase nenhuma renda no mês pode pensar em se deslocar? Parte do deslocamento das famílias baixa renda é para o posto de trabalho. Nos fins de semana, quando não há trabalho, o lazer fica restrito aos poucos locais próximos (quando existem no bairro), como pracinhas.

Para nossas crianças conhecer alguns locais da cidade gera, no primeiro momento, um impacto GIGANTESCO de realidade. Na mesma cidade em que eles moram existem realidades que nunca foi se quer apresentada como possibilidade. Em seu bairro, ou comunidade, o caminho de vida é bem especificamente apresentado: para as mulheres o papel de mãe, dona de casa, doméstica e outras profissões com baixa remuneração, para os homens, o trabalho em oficinas, no comércio, também com baixa remuneração. Profissões dignas, mas que muitas vezes não são a escolha dessas pessoas, mas sim a condição para a sobrevivência das mesmas.


O contraste entre as realidades choca nossas crianças, porque não foi dado a elas, naturalmente, a oportunidade de se pensar de outro modo, talvez num emprego dos sonhos, numa outra cidade, e etc..

Realizamos mais um desses momentos de passeio pela cidade. Por conta da pandemia de covid-19, nossas saídas ficam restritas a locais que seguem por todos os protocolos de segurança sanitária. Nosso passeio foi com 12 crianças. Fomos ao Shopping Patos, que se localiza no bairro do Belo Horizonte, ao lado da UNIFIP (uma de nossas parceiras). O shopping é um local cheio de luzes, com grande estrutura, com muitas lojas e variedades de roupas, sapatos e comidas, e de preços. É um local visitado por diversas pessoas, sobretudo as pessoas mais ricas. Nossas crianças nunca tinham visitado esse local que fica há minutos de suas casas. Talvez, nunca tenha passado por suas cabeças que um dia se quer iriam visitar o lugar.

Para nós, Operação Resgate, os passeios passaram a ser compromisso mensal e explicamos ainda mais o porquê: primeiro, quando a gente conhece nosso território, aprendemos com ele e conhecemos melhor as raízes e os reais problemas: e só conhecendo os reais problemas é que podemos transformá-los; segundo, conhecer a cidade é conhecer a dinâmica social e cultural dessa cidade. E quando estamos compreendendo e pertencendo a essa dinâmica, vamos construindo nossa identidade. E terceiro, o lazer é benéfico às nossas vidas por ser o momento em que outras partes de nosso cérebro e corpo são exercitadas. Esses momentos nos liberam substâncias químicas importantes para o nosso bem estar.

E reforçamos novamente que nossos passeios irão continuar cheios de reflexões e de estímulos para que as crianças enxerguem outras possibilidades de vida. Essa realidade em que as distâncias entre crianças da mesma idade não possam viver os mesmos sonhos, por conta das realidades tão distintas, não pode ser o amanhã da nossa sociedade.

Vamos juntos construir um futuro para nossas crianças!


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